segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

Bagaceira, bagaceira, bagaceira!

Bacana é quando você sofre preconceito e ainda vira atração do coletivo!

Essa história é bem antiga... E nunca foi publicada! Só sabe dela mesmo quem me viu contar ao vivo (o que eu particularmente acho que da um toque especial) mas atendendo a muitos pedidos, segue:

Há uns 4 anos eu estava voltando do trabalho e quando desci do metro estava caindo o diluvio sobre São Paulo. Abri meu guarda chuva e fui caminhando até o ponto. Como eu pegava o ônibus no ponto final, ao invés de ficar tomando chuva no ponto atravessei a rua e fiquei em baixo da marquise do mercado. Quando o ônibus estacionasse eu atravessaria novamente.

O ônibus apontou na esquina e eu abri meu guarda chuva para atravessar (detalhe: eu não gosto de sombrinhas porque acho que elas molham mais do que se não usar nada, então normalmente tenho um guarda chuva daqueles grandes). Foi só o tempo de eu abrir o guarda chuva e ouvi uma voz gritando (coisas que eu não consegui entender) e o ônibus passou. Não parou no ponto. Continuei aguardando.

Não aguardei nem 5 minutos e o ônibus apontou na esquina de novo. Atravessei a rua.
Quando cheguei ao outro lado, uma mulher estava “socando” a lateral do ônibus e gritando com o motorista (conclui que era mesma mulher que gritou quando ele passou sem parar):

- Porque você não parou no ponto! A gente tomando chuva e você não parou! Seu filha da puta!  Que falta de consideração...

Ali ela ficou... Batendo na lateral do ônibus e gritando uns 3 ou 4 minutos até que a porta abriu. Não contente, ela parou na escada e colocou o dedo na cara do motorista e continuou a sessão ofensas. Quando finalmente eu consegui entrar no ônibus, cumprimentei o motorista (era um habito já que eu pegava o ônibus sempre no mesmo horário) seguiu-se o seguinte dialogo:

- Boa noite!
- Ah! Hoje a noite não ta muito boa não... Ficar ouvindo “xingo”

Eu encostei no painel para deixar o restante dos passageiros passarem e comecei a falar com ele:

- Ah! Mas esquece isso ai! Não fica nervoso que é pior ainda! Tem que dirigir, na chuva... melhor nem ligar

- Porra! Mas as pessoas ofendem sem nem saber o que esta acontecendo! Eu não parei aqui a primeira vez porque tinha um ônibus na frente e eu não caberia! Não posso parar em fila dupla. Ai, dei a volta no quarteirão.

- Então... mas as vezes a gente esta aqui no ponto, cansado, tomando chuva... a gente quer ir embora e não pensa nessas coisas... e se teve um dia ruim então, acaba descontando. Não é o certo, mas acontece.

Ai, a mulher levanta la no fundo, aponta o dedo pra mim e grita:
- O sua idiota! Não fica defendendo ele ai não hein?

Eu olhei pra ela, olhei para o motorista e falei:

- O senhor ta vendo? Ela esta completamente descontrolada! Não ligue pra ela não.

E fui sentar. Passei a catraca e quando eu estava passando pelo banco dela ele solta:

- É por causa de sapatão que o mundo esta desse jeito!

Eu parei, olhei pra ela e disse:

- A sua sorte minha senhora, é que eu sou sapatão mesmo, senão a senhora estaria arrumando um grande problema agora.

E ai, sob o olhar curioso de todos os demais (parecia que eu tinha dito: - A sua sorte é que eu sou de Júpiter... porque senão...) eu fui sentar. Sentei naquele banco mais alto do ônibus, com um banco de diferença entre nós duas.

Não contente, a cidadã continuou resmungando alto:

- Porque essa sapatão ta me afrontando... essa sapatão foi defender o motorista... blá blá blá

Eu não estava a fim de mais briga e decidi que ia deixar ela falando a viagem inteira se quisesse. Mas... Ela passou dos limites e disse: - Essa sapatão é uma filha da puta.

Ai eu não aguentei. Levantei, me curvei pra frente sobre o outro banco e dei um “pedala” nela. No susto, ela levantou num pulo e apontou o guarda chuva pra mim. Na mesma hora eu puxei meu guarda chuva também e apontei pra ela!

Assim, com nós duas “em guarda” eu disse pra ela:

- A senhora ia me chamar de sapatão a viagem toda e eu não ia reclamar! Mas filha da puta não, que minha mãe não tem nada a ver com os seus problemas. E agora eu me irritei. Se me chamar de sapatão de novo, vou chamar a policia.

Ela abaixou o guarda chuva, colocou as duas mãos na cintura e disse:

- Sapatão! Sapatão! Sapatão!

Ai, eu liguei para a policia, disse que estava sendo vitima de preconceito e onde eu estava. Mas me disseram no telefone que para eu abrir o B.O. o ônibus não poderia sair dali enquanto a viatura não chegasse. Eu pensei... Isso não era justo com os demais... Cansados, tomaram chuva, eu falei que ia abrir mão então, pra deixar pra lá.

Assim que eu desliguei o telefone, ela levantou, foi ao corredor do ônibus e disse:

- Vocês viram né pessoal? A sapatão ai só queria aparecer!

Eu liguei de novo pra policia. O ônibus saiu do ponto e começou o trajeto. O policial falou para eu pedir pro motorista encostar e ninguém desce ate chegar a viatura. Ele encostou. Quando eu ia passar o endereço, a mulher pegou a bolsa e falou que ia descer.
Eu falei que ela não ia descer e o motorista abriu a porta.

Ela correu pra descer. Quando ela estava nos degraus, pra colocar o pé na rua, a mulher que estava ao meu lado no banco que não tinha nada a ver com a história pegou ela pelo cabelo e jogou de volta dentro do ônibus. Ai, eu fui pra segurar ela e foi aquele rebuliço.

Me dei conta do que estava realmente acontecendo quando eu estava com alguém me segurando já. A hora que apartaram a briga, ela desceu correndo do ônibus e foi embora. Ai o policial disse as minhas opções: ou eu descia do ônibus também e segurava ela enquanto a viatura chegava, ou eu seguia viagem e ia em alguma delegacia dizer que o motorista abriu a porta e blá blá blá... Enfim, eu segui viagem e obviamente não fiz nada contra o motorista.

Quando eu estava me recompondo e voltando para o meu lugar, um homem disse:

- Ainda bem que a louca desceu.

- Ainda bem? A mulher me ofendeu do jeito que ela quis. Eu não mandei a policia vir a primeira vez em respeito aos demais e agora ela foi embora impune e você diz tudo bem?

- Acho que você esta analisando da perspectiva errada... Eu estava perto dela quando ela começou a gritaria toda... Foi tudo porque ela perdeu a paciência de esperar o ônibus mais 5 minutos. Veja, ela vai ter que voltar a pé lá pro ponto final, esperar o próximo ônibus, agora esta chovendo muito mais que antes e vamos combinar que você bem acertou uns dois bem dados nela né?


Pensei... Não é que ele tem razão?

2 comentários:

  1. Cara, vc é muito educada... no primeiro piti dela eu já ia meter a porrada... hahahah

    Sério, parabéns pelo auto controle! E no final ela se fodeu bonito...rs

    ResponderExcluir
  2. Sua atitude foi maravilhosa, infelizmente esse tipo de gente vamos cruzar por toda a vida, fico feliz que você tenha mantido a calma, até mais do que o limite e não se igualado ao troglodita que esse estrume era, fiquei decepcionada com o motorista, claro, mas também feliz com a atitude de alguns outros passageiros, isso sim me dá esperanças que esse mundo pode melhorar sim e que ainda existe muita gente boa nele, assim como você!

    ResponderExcluir